Poemas do Crepúsculo
Este blogue se destina à divulgação dos poemas crepusculares, penumbristas, brumistas deste pobre poetastro maldito, assim como de poemas crepusculares de grandes poetas d'aquém e d'além mar.
quinta-feira, 5 de março de 2015
CAMINHEIRO SEM RUMO
Triste e nostálgico caminheiro sem rumo,
Sem bússola e sem norte,
Sigo, entre a névoa e o sonho,
'Ânsia ardente de realidades inalcançadas',
Na frase de Tasso da Silveira,
Margeando profundos abismos,
Fustigado por fortes ventos,
Sem derramar uma só lágrima
E sem jamais olhar para trás.
Amante da melancolia do crepúsculo,
Do 'spleen' do cair da tarde,
Tanto quanto da tristonha garoa
E das folhas que o vento outonal para longe leva,
Vou pelos árduos e desertos caminhos da vida,
Nostálgico da Sombra de Deus
E da Luz que d'Ele emana,
Com a alma aflita por já não crer que há,
Depois das trevas da caliginosa noite desta vida,
Uma alvorada mais bela
Do que todos os crepúsculos deste Mundo.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
São Paulo, 05 de maio de 2004.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
RUÍNAS
Monumento a Paulo Eiró, de Júlio Guerra |
Agoniza o sol nos
longes do horizonte,
Enquanto cai a fria
água da chuva.
É o crepúsculo chuvoso
e triste
Que cai sobre o antigo
Arraial de Santo Amaro de Ibirapuera,
Ou, simplesmente,
Santo Amaro,
Depois vila e cidade
E hoje região da
imensa Capital Bandeirante.
Caminho pelas
arborizadas vias do Alto da Boa Vista,
No meu Santo Amaro
querido,
Perguntando a mim mesmo
Se é o crepúsculo
chuvoso que inunda
Minh'alma de tristeza
e de melancolia,
Ou se, ao contrário, é
esta que inunda de tristeza e de melancolia
O chuvoso crepúsculo.
Santamarense, botina
amarela, não pelo sangue
Ou pelo nascimento,
mas pela criação e pelo espírito,
Ufano-me de ser filho
desta terra que deu a São Paulo,
A este vasto Império
de nome Brasil
E a todo o Mundo
Lusíada,
Um grande bandeirante,
Borba Gato;
Um grande sacerdote,
Belchior de Pontes,
E um grande poeta,
Paulo Eiró.
É a imagem deste
último que ora vejo,
Diante do teatro que
leva seu nome,
No monumento do
injustiçado Júlio Guerra,
Onde estão escritos os
mais célebres versos do poeta santamarense:
“O homem sonha monumentos
E só ruínas semeia
Para pousada dos ventos”.
Creio que sonhei
monumentos,
Mas que só ruínas semeei,
Para pousada dos ventos.
Aliás, temo não ser eu
próprio senão um monte de ruínas
Que, na realidade, jamais
foram qualquer coisa além de
ruínas
Salvo no mundo dos sonhos
e das ilusões,
Onde foram um castelo cem
vezes mais belo
Que os mais belos castelos
idealizados por Ludovico II,
O rei maldito e louco da
Baviera.
No crepúsculo chuvoso e
triste que cai
Sobre os “cafundós
penumbristas de Santo Amaro”
De que nos falou Mário de Andrade,
Uma lágrima furtiva e
solitária,
Logo secada pelo vento,
Rola pela face deste
poetastro penumbrista,
Mau discípulo de Ribeiro
Couto
E, em parte, também de
Onestaldo de Pennafort,
Embora, ao contrário deste,
Ferido, irremediavelmente
ferido
Pela flecha do Modernismo.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
São Paulo, 15 de julho de
2003.
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Victor Emanuel Vilela Barbuy
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
PRANTO INTERIOR
Sonhos desfeitos,
ilusões destruídas,
Vãs esperanças mortas,
ideais traídos,
Quedas dolorosas e
amargas derrotas sofridas
Na mais dura das
guerras,
Que é a guerra contra
mim mesmo,
O combate sem quartel
entre o homem que sou
E aquele que deveria
ser.
No crepúsculo
melancólico e nostálgico,
Ouço o triste pranto
da chuva,
Que, a despeito de tão
triste,
Está longe, muito longe
De ser tão triste
quanto o meu pranto interior.
Victor Emanuel.
São Paulo, 15 de junho
de 2003.
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