quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

RUÍNAS

Monumento a Paulo Eiró, de Júlio Guerra

Agoniza o sol nos longes do horizonte,
Enquanto cai a fria água da chuva.
É o crepúsculo chuvoso e triste
Que cai sobre o antigo Arraial de Santo Amaro de Ibirapuera,
Ou, simplesmente, Santo Amaro,
Depois vila e cidade
E hoje região da imensa Capital Bandeirante.

Caminho pelas arborizadas vias do Alto da Boa Vista,
No meu Santo Amaro querido,
Perguntando a mim mesmo
Se é o crepúsculo chuvoso que inunda
Minh'alma de tristeza e de melancolia,
Ou se, ao contrário, é esta que inunda de tristeza e de melancolia
O chuvoso crepúsculo.

Santamarense, botina amarela, não pelo sangue
Ou pelo nascimento, mas pela criação e pelo espírito,
Ufano-me de ser filho desta terra que deu a São Paulo,
A este vasto Império de nome Brasil
E a todo o Mundo Lusíada,
Um grande bandeirante, Borba Gato;
Um grande sacerdote, Belchior de Pontes,
E um grande poeta, Paulo Eiró.
É a imagem deste último que ora vejo,
Diante do teatro que leva seu nome,
No monumento do injustiçado Júlio Guerra,
Onde estão escritos os mais célebres versos do poeta santamarense:
“O homem sonha monumentos
E só ruínas semeia
Para pousada dos ventos”.

Creio que sonhei monumentos,
Mas que só ruínas semeei,
Para pousada dos ventos.
Aliás, temo não ser eu próprio senão um monte de ruínas
Que, na realidade, jamais foram qualquer coisa além de ruínas
Salvo no mundo dos sonhos e das ilusões,
Onde foram um castelo cem vezes mais belo
Que os mais belos castelos idealizados por Ludovico II,
O rei maldito e louco da Baviera.

No crepúsculo chuvoso e triste que cai
Sobre os “cafundós penumbristas de Santo Amaro”
De que nos falou Mário de Andrade,
Uma lágrima furtiva e solitária,
Logo secada pelo vento,
Rola pela face deste poetastro penumbrista,
Mau discípulo de Ribeiro Couto
E, em parte, também de Onestaldo de Pennafort,
Embora, ao contrário deste,
Ferido, irremediavelmente ferido
Pela flecha do Modernismo.

Victor Emanuel Vilela Barbuy,

São Paulo, 15 de julho de 2003.

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