Monumento a Paulo Eiró, de Júlio Guerra |
Agoniza o sol nos
longes do horizonte,
Enquanto cai a fria
água da chuva.
É o crepúsculo chuvoso
e triste
Que cai sobre o antigo
Arraial de Santo Amaro de Ibirapuera,
Ou, simplesmente,
Santo Amaro,
Depois vila e cidade
E hoje região da
imensa Capital Bandeirante.
Caminho pelas
arborizadas vias do Alto da Boa Vista,
No meu Santo Amaro
querido,
Perguntando a mim mesmo
Se é o crepúsculo
chuvoso que inunda
Minh'alma de tristeza
e de melancolia,
Ou se, ao contrário, é
esta que inunda de tristeza e de melancolia
O chuvoso crepúsculo.
Santamarense, botina
amarela, não pelo sangue
Ou pelo nascimento,
mas pela criação e pelo espírito,
Ufano-me de ser filho
desta terra que deu a São Paulo,
A este vasto Império
de nome Brasil
E a todo o Mundo
Lusíada,
Um grande bandeirante,
Borba Gato;
Um grande sacerdote,
Belchior de Pontes,
E um grande poeta,
Paulo Eiró.
É a imagem deste
último que ora vejo,
Diante do teatro que
leva seu nome,
No monumento do
injustiçado Júlio Guerra,
Onde estão escritos os
mais célebres versos do poeta santamarense:
“O homem sonha monumentos
E só ruínas semeia
Para pousada dos ventos”.
Creio que sonhei
monumentos,
Mas que só ruínas semeei,
Para pousada dos ventos.
Aliás, temo não ser eu
próprio senão um monte de ruínas
Que, na realidade, jamais
foram qualquer coisa além de
ruínas
Salvo no mundo dos sonhos
e das ilusões,
Onde foram um castelo cem
vezes mais belo
Que os mais belos castelos
idealizados por Ludovico II,
O rei maldito e louco da
Baviera.
No crepúsculo chuvoso e
triste que cai
Sobre os “cafundós
penumbristas de Santo Amaro”
De que nos falou Mário de Andrade,
Uma lágrima furtiva e
solitária,
Logo secada pelo vento,
Rola pela face deste
poetastro penumbrista,
Mau discípulo de Ribeiro
Couto
E, em parte, também de
Onestaldo de Pennafort,
Embora, ao contrário deste,
Ferido, irremediavelmente
ferido
Pela flecha do Modernismo.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
São Paulo, 15 de julho de
2003.
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